90 degraus e umas quedas
quarta-feira, 27 de junho de 2012

Passado. Como queria poder vive-lo novamente, sou
completamente louca por ele, desde cada momento feliz até cada momento de
dificuldade, porque foram esses momentos que me trouxeram onde estou hoje. Não
consegui achar uma palavra que defina o tamanho do orgulho que tenho das minhas
histórias, e não sei de quantas exatamente posso me lembrar, nem desde quando
comecei a gravar tudo, cada pequeno segundo, pra poder beber uma dose deles mais
tarde. Talvez tenha sido na casa de 90 degraus, que mamãe fazia mingau no café
enquanto eu brincava de rodar pela cozinha, até cair no chão. Onde tinha aquela
piscina de plástico que ficava no nosso pequeno quintal, que de noite era
repleto de baratas. Talvez no prédio de vovô, que eu sentava no corredor pra
desenhar e que o vizinho do lado alimentava minha paixão por Botons, me dando
alguns bem memoráveis. Época boa, que eu usava galocha pra ir pra creche e não
queria soltar o pescoço de papai por nada. Onde segurei minha primeira vela,
mesmo sem saber o que era isso, porque ficava assistindo TV no chão da sala com
meu irmão e sua.. suas, namoradas. Talvez tenha sido lá no Sapê, onde a gente
brincava de pique esconde, jogava bola, queimada, voley, basquete, passava
horas na bicicleta, fazia torneios de bolinha de gude, Yugioh e Beyblade. Ou aquela
vez em Camboinhas que as ondas estavam bem fortes e a mãe de Marina nos ensinou
a fura-las, pareciam ondas de 3 metros pra gente, nos sentimos o máximo. Mas
pode ter sido também em cada canto do São Vicente, cada um, que eu conhecia como
a palma da minha mão. E Rio Claro, onde sempre foi meu refúgio, meu lugar de
sonhos, e que existem tantas lembranças que eu levaria horas descrevendo-as. Mas
existe um lugar, um só, em que dói de verdade me lembrar: Belo Horizonte. Porque
não quero que faça parte do passado como os outros, não quero ter saudade,
porque saudade a gente sente de algo que não se tem, e eu queria
desesperadamente fazer parte de lá ainda. De todas as histórias que ainda serão
escritas por lá. Porque eu amo.. só.. amo.. cada centelha de um segundo lá, e
eu não consigo se quer explicar o quanto isso é forte e o quanto está me
corroendo. Tenho bebido tantas doses desses segundos do passado que ando
transbordando, eles tem escapado pelos olhos. Mas, são essas mesmas doses que
fazem eu me afogar em mim mesma, que me movem pra frente e me mantem viva.
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